Intervenções baseadas em evidências
Enio Bacci, diretor-geral do DetranRS
Em 2011, início do período que a ONU conclamou os países para uma Década de Ação pela Segurança no Trânsito, o Rio Grande do Sul estudou as recomendações de organismos internacionais para desenvolver políticas públicas de segurança no trânsito. Havia cinco pontos a serem trabalhados, de acordo com fartas evidências científicas. Não era preciso inventar a roda, bastava seguir o caminho de países que tiveram melhoras significativas na redução de mortes.
Além da questão velocidade, cinto de segurança, cadeirinhas, capacete, o álcool era um fator de risco importantíssimo. A partir daí foi criada a Balada Segura que, de lá pra cá, só vem crescendo e apresentando resultados positivos no Estado, além de servir de referência para outras unidades da Federação.
A pesquisa divulgada nessa quinta-feira pelo DetranRS, a partir de informações do Instituto-Geral de Perícias, confirma o acerto dessa política pública que investiu pesado no fator de risco que, com os dados que conhecemos hoje, pode-se dizer, é a principal causa de acidentes no trânsito gaúcho. Se quase 40% dos mortos no trânsito em 2018 estavam alcoolizados, blitze focadas na alcoolemia são a resposta mais acertada. Se o percentual de alcoolizados entre os mortos chega a 95% entre os condutores acidentados nas madrugadas de domingo, faz sentido concentrar as blitze nas noites e madrugadas dos finais de semana.
Estamos no caminho certo, mas a pesquisa nos traz informações valiosas para aprimorar nossos processos. Mapearemos os locais e horários onde a situação é mais crítica e incentivaremos prefeituras dessas localidades a aderirem ao programa. Nossas próprias equipes também eventualmente atuarão nessas regiões.
A pesquisa também traz desafios: a presença de álcool nas vítimas de trânsito é altíssima entre pedestres e ciclistas (45% e 42%, respectivamente). Esse público não é atingido por políticas de fiscalização, mas um combinado de engenharia e educação certamente reduziria esses números.
Uma forte recomendação da ONU para a Década era aprimorar as estatísticas de acidentes, afinal, não é possível definir onde investir recursos limitados, se não temos uma pista de onde esteja o problema. Agora temos, além das evidências científicas internacionais, dados locais para intervir com mais eficácia. A tarefa agora é, conjuntamente com os demais órgãos de trânsito, agir cirurgicamente para salvar cada vez mais vidas.
* artigo originalmente publicado na edição de 20/12 do correio do povo
Fonte:https://www.detran.rs.gov.br/intervencoes-baseadas-em-evidencias